Tóquio:
O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, dissolveu o parlamento na quarta-feira, antes das eleições antecipadas de 27 de outubro, contando com sua lua de mel política e uma oposição fragmentada para levar seu partido contaminado por escândalos à vitória.
O Partido Liberal Democrático (LDP) de Ishiba governou o Japão quase continuamente durante décadas – embora com frequentes mudanças de líder – e é quase certo que será reeleito. Mas Ishiba, nomeado primeiro-ministro na semana passada, quer reforçar o seu mandato para implementar políticas que incluam o aumento dos gastos na defesa, bem como nas regiões mais pobres afectadas pela crise demográfica do Japão.
“Queremos enfrentar estas eleições de forma justa e sincera, para que este governo ganhe a confiança (do público)”, disse Ishiba aos jornalistas na quarta-feira.
O presidente do parlamento leu mais tarde uma carta do primeiro-ministro com o selo do imperador, dissolvendo formalmente o parlamento enquanto os legisladores gritavam o tradicional grito de guerra “banzai”.
O governo de três anos do antecessor de Ishiba, Fumio Kishida, sofreu índices de aprovação historicamente baixos devido a um escândalo de fundo secreto e ao descontentamento dos eleitores com o aumento dos preços.
As pesquisas da semana passada colocaram os índices de aprovação do gabinete de Ishiba entre 45% e 50%, em comparação com 20% a 30% no último mês do governo Kishida.
Os apoiantes de Ishiba esperam que o “geek” confesso da defesa e crítico declarado do establishment do LDP aumente a popularidade do partido, inclusive persuadindo os jovens a votar.
Ao dissolver o Parlamento, o presidente de 67 anos quer testar o seu partido antes que termine o seu período de “lua de mel”, disse Yu Uchiyama, professor de ciências políticas na Universidade de Tóquio.
“Faz sentido que ele quisesse convocar eleições antecipadas assim que a ‘cara’ do partido mudasse, enquanto o ímpeto ainda existe”, disse ele à AFP.
Uchiyama acrescentou que Ishiba também queria apanhar as forças da oposição de surpresa, uma vez que os inimigos do LDP continuam indecisos sobre como coordenar-se entre si nas eleições.
Mas a decisão do primeiro-ministro de convocar eleições antecipadas tão cedo também foi criticada por contradizer as suas promessas anteriores de dar prioridade ao confronto com a oposição no parlamento.
Alguns eleitores consideraram um sinal decepcionante o facto de ele ter “cedido à pressão dentro do seu partido” para dissolver o parlamento para obter ganhos políticos, disse Uchiyama.
No fim de semana, Ishiba anunciou que o LDP não apoiaria alguns membros desonrados do partido implicados no escândalo de financiamento político nas eleições.
O anúncio refletiu seu desejo de mostrar ao público que ele pode ser “firme” e “provavelmente recuperou parte da confiança do público nele”, disse Uchiyama.
Novas promessas
Para combater a China, Ishiba apoiou a criação de uma aliança militar regional semelhante à NATO, embora tenha admitido na segunda-feira que “isso não aconteceria da noite para o dia”.
O analista Yee Kuang Heng, da Escola de Políticas Públicas da Universidade de Tóquio, disse à AFP que a ideia parecia uma “explosão do passado”, uma reminiscência da extinta SEATO (Organização do Tratado do Sudeste Asiático).
Ishiba disse que o ambiente de segurança na Ásia era “o mais severo desde o fim da Segunda Guerra Mundial” e alertou no seu primeiro discurso político na sexta-feira que “a Ucrânia de hoje pode ser o Leste Asiático de amanhã”.
O Japão também enfrenta uma crise demográfica iminente à medida que a sua população envelhece e a taxa de natalidade permanece teimosamente baixa, uma situação que Ishiba chamou de “emergência silenciosa” na sexta-feira.
Ele disse que seu governo promoveria medidas de apoio às famílias, como horários de trabalho flexíveis.
Ishiba também se comprometeu a “garantir que a economia do Japão saia da deflação” e quer aumentar os rendimentos através de um novo pacote de estímulo, bem como apoio aos governos locais e às famílias de baixos rendimentos.
Entretanto, o principal partido da oposição, o Partido Democrático Constitucional do Japão, procura diferenciar-se do PLD numa série de questões de diversidade, incluindo a promessa de legalizar os casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Também se compromete a permitir que os casais mantenham sobrenomes separados.
(Exceto a manchete, esta história não foi editada pela equipe da NDTV e é publicada por um canal sindicalizado.)